getulio_carfonte: Estadão

Pacientes e servidores do Hospital Estadual Getúlio Vargas, na zona norte do Rio, fizeram manifestação na tarde desta segunda-feira, 22, em protesto contra a crise que atinge a unidade. Os servidores terceirizados têm recebido salários com atraso desde dezembro e cirurgias foram suspensas por causa da falta de medicamentos e insumos. Nesta segunda, não havia alimentos para o almoço de pacientes e funcionários – eles receberam uma sopa rala de feijão.

Os servidores terceirizados informam que a crise se arrasta desde o fim do ano passado, mas a situação se agravou neste mês, com apenas uma parcela do salário quitada no dia 12. “Depois não recebemos mais nada. O Riocard (passe para transporte público) não foi abastecido. As pessoas estão pagando para vir trabalhar. Já pedimos ao diretor para registrar um boletim de ocorrência na 22ª Delegacia de Polícia (Penha), informando que a emergência não tem condição de funcionar”, disse uma técnica de enfermagem, que não quis se identificar.

A autônoma Glauciene da Silva Santos, de 29 anos, acompanha há duas semanas o filho Ruan Vitor Silva Santos, de 13, que fraturou a clavícula e espera por uma cirurgia. “Ele já foi cinco vezes para a sala de cirurgia, mas cancelam. Já faltou roupa para o médico usar, luva. Teve um dia que só tinha anestesia para duas pessoas e tinham de guardar, porque podia chegar alguém baleado”, contou ela. “Os funcionários vêm trabalhar por amor. Mas meu filho é uma criança. Ele já não aguenta mais ficar no hospital. Ele está agoniado”.

Nesta segunda, ao saber que seria servido sopa de feijão, ela foi em casa e preparou almoço para o menino: arroz, feijão e carne. “A sopa era tão rala que os pacientes estavam dobrando a quentinha e virando na boca”, contou. Na semana passada, chegou a ser servido arroz, feijão e ovo.

O presidente da Associação das Empresas Prestadoras de Serviço do Estado (AEPS), José de Alencar, disse que as fornecedoras têm enfrentado atraso de até seis meses no repasse do Estado. “Como associação, fizemos um pacto para que não houvesse interrupção de serviços durante a Olimpíada. Mas não dá para as empresas financiarem o Estado. Não somos banco”, afirmou.

O Getúlio Vargas é administrado pela organização social Pró-Saúde, empresa com sede em São Paulo. Em nota, a administração do hospital informou  que as refeições de pacientes e funcionários passarão a ser entregues por “fornecedor externo”.

“Nesta segunda-feira, houve atraso no preparo (da refeição), situação que já foi solucionada, e tanto pacientes quanto funcionários receberam alimentação – que incluiu sopa de feijão, macarrão e legumes, sendo observados os quadros dos pacientes”, afirmou em nota. Ainda segundo o texto, a direção do hospital aguarda “repasse de recursos de custeio para regularizar o pagamento da segunda metade dos salários”.

“Diante da grave crise financeira pela qual atravessa o Estado do Rio de Janeiro, e a inconstância dos repasses devidos, a direção da unidade vem trabalhando, incansavelmente, para regularizar, prioritariamente, a situação da folha de pessoal, o que acontecerá tão logo o repasse pelo Estado seja efetuado”, diz a nota.